CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE DISCURSO E DA PSICANÁLISE AOS DISCURSOS DO AUTISMO

Márcia Maria da Silva Cirigliano

Resumo


Este trabalho apresenta elementos para tese de doutorado que buscaanalisar os diversos discursos acerca do autismo e da criança autista.Tem por objetivo examinar a rede discursiva presente na clínica doautismo, buscando responder uma questão, formulada a partir deobservações no atendimento institucional em Musicoterapia. Para analisar esses discursos, será mobilizado o conceito de discurso emMichel Pêcheux ([1983] 2008). No tocante aos registros dosatendimentos clínicos, o material será considerado a partir doconceito de voz, na teoria psicanalítica de Jacques Lacan ([1962]2003). Mediante solicitação profissional ou demanda familiar,crianças com diagnóstico de autismo são encaminhadas aMusicoterapia, no intuito de tratar comportamentos inadequados,como gritar e se agredir. Percebe-se que a palavra cantada ajuda aminimizar tais comportamentos e que as crianças começam averbalizar palavras soltas em diálogo musical. Dadas ascaracterísticas destas crianças, o termo diálogo se coloca comoproveniente da intervenção, permeada pela música. Observa-se aindaque o mesmo não acontece quando alguém fala diretamente com acriança ou utiliza um CD. A voz da musicoterapeuta é intercaladapor pausas, intervalos e registros musicais variados. Cabe, portanto,perguntar: por que no atendimento musicoterápico há reaçõesdiferentes da escuta de um CD ou da fala dirigida à criança? Até osdias atuais o autismo é significante enigmático, classificado comosíndrome na categoria psiquiátrica de Transtornos doDesenvolvimento. Na medida em que não fala de maneiracompreensível aos demais, o autista ‘é falado’ a partir de algunslugares, em uma formação discursiva heterogênea. Há váriosdiscursos para o autismo, talvez na tentativa de o sujeito falante lheatribuir sentidos, inscrevendo um comportamento inusitado noconvívio social. Assim, pretende-se analisar o discurso institucional,dos professores, das mães de crianças autistas, bem como a definiçãode autismo em outros domínios, como o discurso médico e osverbetes nos dicionários de Psicanálise. Sendo o autista ‘falado’desses lugares, cabe perguntar: há voz no autista? Se, de acordo comos saberes mencionados, ele não está no discurso, o que verbaliza?Interessam suas verbalizações, se não pode ser nomeado sujeito, nemestar no discurso? Investigando estas questões, busca-se verificar oquanto a música pode levar o autista a verbalizar em vez deapresentar comportamentos agressivos. Em outras palavras, escutar oque a criança vocaliza e colocar esta vocalização em uma estruturamusical possibilita que outros sons (e palavras) possam emergir. Tais intervenções dão à criança um lugar em que algo, para além daagressividade e da automutilação, possa se inscrever, algo quepossibilite a ela passar, por exemplo, da gritaria ao cantar e deste, àmelhor socialização. A palavra cantada e a música permitem umaorganização mínima, pois convocam o autista de forma diferenciada.Trata-se de um trabalho que pretende contribuir, no plano teórico, àsarticulações e fronteiras entre Psicanálise e Análise de Discurso,trazendo, ainda, alguns elementos da Musicoterapia à discussão paraa Análise de Discurso.

Palavras-chave: Discurso; Psicanálise; Autismo; Musicoterapia.


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