FUGAS DE SENTIDOS: QUESTÕES SOBRE SUBJETIVIDADES HOMOSSEXUAIS

Alexandre da Silva Zanella

Resumo


Neste trabalho, tocamos em um ponto de nossa pesquisa de doutorado. Nela, nosso percurso de análise lida com questões que se voltam ao discurso sobre os sujeitos homossexuais na mídia on-line, em uma dada conjuntura histórica que é a da nossa contemporaneidade, em relação aos espaços de convivência social urbanos habitados/frequentados por eles. Considerando que aquilo que se diz sobre o/a homossexual é dito a partir de um lugar: o dos portais de notícia on-line em âmbito brasileiro. Conforme lemos em Eribon (2008), há uma historicidade que marca os sujeitos homossexuais em relação às suas condições de existência (ao menos, na história recente que concerne à nossa pesquisa) que faz com que eles se agrupem nas cidades, para fugir de um “mundo de injúrias” (id., p. 26). A partir desta afirmação, queremos pensar, baseados na linha francesa de Análise de Discurso (PÊCHEUX, 2009 [1988]; 2008 [1998]; ORLANDI, 2010 [1999]; 2001; 2004), como os espaços urbanos hoje denominados gay-friendly produzem sentidos em relação a estes agrupamentos dos sujeitos homossexuais. Se, como entendemos com Hirschfeld (apud ERIBON, 2008), há espaços exclusivos de vivência homossexual desde o início do século XX, seriam esses espaços gay-friendly desdobramentos daqueles do início do século passado? Se há, pois, uma memória discursiva que marca esses espaços, por que haveriam de ser denominados hoje como friendly, considerando que “ninguém ignora” (id.) a existência destes espaços nas cidades? O que da memória se desloca com essa qualificação? De fato, Eribon (2008) refere-se a Goffman para abordar que a ida para outro lugar significa, além de uma busca por anonimato e liberdade, um “corte na biografia dos indivíduos. Não é somente um percurso geográfico, ou um meio de ter acesso a potenciais parceiros. É também a possibilidade de redefinir a própria subjetividade, de reinventar a identidade pessoal” (p. 37, grifos nossos). Nessa direção, queremos compreender se uma fuga para a cidade poderia representar para o sujeito homossexual, em termos discursivos, uma fuga de sentidos: sentidos de si e sobre si. Uma vez que trabalhamos com posições discursivas ao invés de situações empíricas (ORLANDI, [1999] 2010a), entendemos o atravessamento/deslocamento geográfico como um processo de identificação dos sujeitos com projeções sobre o que é ser homossexual numa determinada formação discursiva que afeta também o espaço. Pode-se, então, dizer que há uma “reinvenção de uma identidade”? Um “corte biográfico”? Essas questões nos mobilizam, neste trabalho, a pensar os sentidos desse deslocamento em relação a um imaginário sobre o sujeito homossexual que tem suas condições de produção materialmente determinadas. Este jogo imaginário envolveria algumas posições: i) a imagem que o sujeito homossexual faz de si; ii) a imagem que o sujeito homossexual faz do seu interlocutor; iii) a imagem que o sujeito homossexual faz do seu interlocutor sobre si; todas essas posições produzindo efeitos de sentidos numa formação ideológica na qual seria preciso evadir(-se) para ser sujeito. Consideramos a hipótese de que aí poderia residir uma fuga de sentidos de si e sobre si a qual o sujeito homossexual imaginariamente resolveria noutro lugar. Seria isso que faria com que migrassem, de modo que estariam vinculados subjetividade e espaço social de existência? Por outro lado, o que garante que haverá um corte biográfico nessa transição? Não se trata, sobretudo, de uma questão subjetiva, isto é, do que se pode (e deve) numa determinada formação discursiva onde o sujeito se inscreve? Queremos, com essas questões que nos movem, apresentar aspectos teóricos e metodológicos da nossa pesquisa, destacando sua relevância para o campo da Análise de Discurso no Brasil.


Palavras-chave: Análise de Discurso; homossexualidade; sujeito; discurso jornalístico (on-line).


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