A MÍDIA IMPRESSA E O FUNCIONAMENTO DO SILÊNCIO NO DISCURSO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DE 2013/2014

Flávia Ferreira Alves

Resumo


O ano de 2013 ficou marcado na memória de muitos brasileiros como o ano das manifestações. O acontecimento nasceu da iniciativa de um modesto e pouco conhecido, até então, grupo de estudantes universitários denominados como Movimento Passe Livre, que levou inicialmente às ruas e à mídia a pauta sobre os transportes públicos. No ano de 2013, as manifestações foram um dos temas que mais circularam na imprensa nacional e internacional. Para interpretar os acontecimentos, a mídia geralmente abordava o fato pelo viés da violência, destacando a repressão policial ou o vandalismo de alguns manifestantes. Mesmo se posicionando como órgãos independentes e imparciais responsáveis por transmitir os fatos tais como eles ocorrem para a população, essa autonomia imaginária produziu efeito de sentidos ao longo do processo de difusão/construção das notícias sobre as manifestações. Este trabalho pretende analisar os efeitos de sentidos que circularam na grande mídia naquele momento histórico, produzidos sobre as manifestações de junho nas reportagens de Veja e Isto É, duas importantes revistas de âmbito nacional, questionando como esses sentidos se inscrevem na memória ao se posicionar em determinada formação discursiva. O corpus será constituído pelas edições das revistas Veja e Isto É que apresentaram em suas capas notícias relacionadas às manifestações, durante os meses de junho e julho de 2013. Nas edições de 2014, a análise irá buscar as ocorrências sobre as manifestações nas reportagens das revistas, seguindo o calendário aproximado em que as revistas circularam no ano anterior. Propõe-se observar também como os sentidos que compareceram em 2013 de forma dominante nas revistas Veja e Isto É retornaram nas edições de 2014. A pesquisa terá como suporte o campo teórico da Análise de Discurso de linha francesa, proposta por Michel Pêcheux, na França, e desenvolvida no Brasil, sobretudo, a partir dos trabalhos de Eni Orlandi. Dessa perspectiva, o discurso é entendido por Pêcheux como “efeito de sentido entre locutores” (1997, p.82), ou seja, o sentido é constituído de acordo com a posição do sujeito em determinada formação social, em um dado momento histórico. Além dos conceito da Análise de Discurso, serão mobilizadas também algumas considerações a respeito do silêncio que, segundo Orlandi(2007, p. 27), “ Não é o nada, o vazio sem história. É o silêncio significante”. Ou seja, o silêncio significa a partir da interrelação da língua com a história, aqui entendida como tensões que envolvem conflitos e disputas de poder. Observado por esses aspectos, é possível detectar as marcas do silêncio por sua discursividade (ORLANDI, 2012). As revistas Veja e Isto É foram selecionadas para a composição do corpus por constituírem parte da chamada mídia de referência do país e porque as duas publicações, aparentemente, assumiram filiações discursivas distintas. Desta forma, serão analisadas três edições de cada uma das revistas que circularam, respectivamente, nos dias19 e 26 de junho e 3 de julho. De acordo com as análises, as manifestações de 2013 não foram “esquecidas” pela mídia em 2014. Um ano após o acontecimento histórico, os eventos parecem ter sido silenciados pela mídia tradicional. O funcionamento dos discursos sobre as manifestações em 2014 produziu sentidos direcionados para a marginalização dos protestos. Essas observações comprovam como os sentidos estão em movimentos e como eles são produzidos em relação às... condições de produção e as relações de forças predominante num determinado momento histórico. Por meio das análises, busca-se contribuir para a reflexão acerca do papel da mídia na sociedade, considerando a sua posição no processo de produção de sentidos para as manifestações como acontecimento histórico.


Palavras-chave: Análise de Discurso; mídia impressa; manifestações; silêncio.


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