O EQUÍVOCO DO SUJEITO COMO OBJETO: O DISCURSO SOBRE SOBRE

Frederico Sidney Guimarães

Resumo


O discurso, entendido como objeto teórico para se analisar efeitos de sentidos, permite o deslizamento de saberes através dos equívocos inerentes à língua. Desta forma, a análise do discurso de uma disputa política permite a reflexão sobre a ação do indivíduo se fazer sujeito quando repercute discursivamente supostos saberes sobre si mesmo. Tendo como base a relação entre o assujeitamento, entendido como a ação do sujeito se fazer sujeito, e o discurso em defesa dos direitos LGBTS, propomos refletir como um “saber sobre” se junta com o “discurso sobre” no sujeito que se faz objeto de sua própria fala. Os equívocos do sujeito ocorrem na relação do sujeito com a linguagem e é analisada pela teoria da Análise do Discurso de Michel Pêcheux e Eni Orlandi. Entendemos que o discurso por direitos é uma disputa por significações que induz o sujeito a se inserir no jogo de sentidos específico dessa disputa. Do empírico da ação política, considerado como a causa concreta (a partir da paradoxal materialidade da ideia), ao assujeitamento discursivo (a teoria do Discurso), o confronto de ideias acerca dos direitos civis gays alimenta a afirmação de Michel Pêcheux de que todo processo discursivo se inscreve numa relação ideológica de classe. Ao se fazer objeto de sua própria fala, entendemos que o sujeito se insere dialeticamente numa estrutura de sentidos pré-fixada em tornos dos consensos proporcionados pelas certezas ideológicas e, ao mesmo tempo e paradoxalmente, também se insere num deslizar dos sentidos proporcionados por um cotidiano que mobiliza e altera as estruturas dos consensos. A conjuntura de um cotidiano, por mais que contribua para manter uma permanência no processo de significação, também permite uma oposição a esse processo e um próprio deslizamento dos sentidos de acordo com as alterações das condições discursivas. A noção do deslizamento pressupõe não a oposição, mas a adaptação do sentido hegemônico às novas configurações sociais sem perder a proposição anterior. A análise do efeito equivocante do sujeito em objeto terá como corpus um recorte do arquivo do projeto de pesquisa sobre o discurso na disputa por direitos dos homossexuais, em referência ao dizer que defende o comportamento afeminado de homossexuais tendo como base prévios consensos acerca de como os comportamentos de gêneros são enquadrados socialmente. Nesse caso, os consensos devem ser lidos fora de seus efeitos de evidência para permitir o entendimento do equívoco do sujeito que fala sobre si com base no que dizem dele. Se a homossexualidade é a “coisa” a ser dita, ela entra, intrinsicamente, nessa associação aos “dizeres sobre”. Esses dizeres sobre essa “coisa” homossexualidade estão num processo conflituoso que possibilita com mais facilidade os deslizamentos dos sentidos, tendo em vista que o sentido sobre a homossexualidade é baseado no sentido hegemônico da normatividade heterossexual (com base na crítica ao comportamento afeminado pelos próprios homossexuais). A conjuntura atual não está predominada sobre um sentido fortemente institucionalizado, por conta da possibilidade da disputa possível nos diversos posicionamentos sobre o assunto homossexualidade. Isso permite a maior dispersão dos “discursos sobre” o homossexual e advém o equívoco do próprio gay se objetivizar (se tornar objeto do dizer) ao falar sobre ele mesmo com base no que dizem sobre ele no seu próprio discurso em que seus direitos e identidades são defendidos. É o “discurso sobre ‘sobre’”.


Palavras-chave: Análise do Discurso; homossexualidade; direitos civis; disputas.


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