FOTOGRAFIAS DE UMA INFÂNCIA NOS JORNAIS: DOIS VALORES POSSÍVEIS

Milene Maciel Carlos Leite

Resumo


Expomos, nesta apresentação, resultados e reflexões produzidas em nossa pesquisa, realizada em nível de Mestrado, que se interessa, primordialmente, pelas produções de sentido para uma infância na atualidade. Utilizamos como aporte teórico-metodológico a Análise do Discurso de orientação francesa, com base em Pêcheux (1997 [1969], 2009 [1975], 2012 [1983]), na França, e Orlandi (2001, 2012, 2013), no Brasil, que nos permitiu desenvolver uma análise discursiva de três fotografias em circulação nos jornais Folha de São Paulo, O Globo e Extra, todos em suas versões online, na tentativa de compreender o processo sócio-histórico-ideológico de significação para a infância tornada notícia. Para analisar o não verbal, considerando seu estatuto de linguagem, consideramos os trabalhos de Orlandi (2003), acerca da relação entre o verbal e o não verbal, na mídia, Lagazzi (2007), a respeito da materialidade significante, e Lunkes (2014), que propõe “o político da imagem”, enquanto divisão de sentidos. Tais trabalhos abrem espaço a discussões que considerem o não verbal como objeto, ou, conforme Lagazzi (ibidem), distintas materialidades significantes como foco de análise. Mobilizamos, nas análises empreendidas, as noções de sujeito, posições-sujeito e gestos de interpretação, considerando a incompletude da imagem e as suas múltiplas possibilidades de leitura, o que reafirma a condição de linguagem do não verbal. Além das fotografias, selecionamos também para análise as legendas, os títulos das notícias e as sessões em que estão alocadas. A partir deste recorte, trabalhamos no espaço de contradição entre o verbal e o não verbal, como distintas materialidades significantes que não se complementam, mas funcionam em composição, “cada uma fazendo trabalhar a incompletude na outra” (LAGAZZI, 2007). Uma das imagens analisadas permitiu ao fotógrafo um prêmio na categoria "Melhor fotografia", em concurso interno ao jornal O Globo. O prêmio dá à fotografia outro estatuto, outro valor, em relação às demais fotografias estampadas no jornal. “Melhor” que as demais, perguntamo-nos: Melhor para quem? O que há nessa imagem que seja digno de re-conhecimento? Considerando que fotografar é tornar objeto aquilo que se fotografa, pensamos e propomos o funcionamento das imagens como “discursos sobre” (MARIANI, 1996) uma infância. Pelo teor do que tornam visíveis, pela afetação e por o que têm a transmitir, propomos, de um lado, o valor testemunhal do discurso imagético aqui trazido à análise; de outro, na condição de produto, consideramos a possibilidade de refletir sobre o valor mercadológico das imagens, o que instaura uma contradição, que se revela um espaço possível de trabalho: as fotografias funcionam com valor de testemunho e funcionam com valor mercadológico (não uma coisa ou outra, mas uma e outra). Ao levarmos em conta a materialidade significante específica da imagem, produzimos, à luz da teorização de Pêcheux (ibidem) uma discussão que considera o atravessamento ideológico e inconsciente na produção e circulação de imagens na imprensa (e destas imagens, em específico), considerando a condição do sujeito assujeitado (pelo ideológico e pelo inconsciente). Daremos ênfase, neste artigo, ao que apontamos como estes dois valores possíveis para as fotografias, como discursos imagéticos sobre uma infância: o testemunhal e o mercadológico.


Palavras-chave: Análise do Discurso; discurso imagético; testemunho; mercado.


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