EM NOME D’A LÍNGUA: EFEITOS DE UNIDADE E DISTINÇÃO PELA (NÃO) DESIGNAÇÃO DA LÍNGUA SOBRE A QUAL SE DIZ NA MODERNA GRAMÁTICA PORTUGUESA (1961) DE EVANILDO BECHARA

Thais de Araujo da Costa

Resumo


Em nossa tese de doutorado a partir da articulação entre a Análise de Discurso, de Michel Pêcheux e Eni Orlandi, e a História das Ideias Linguísticas, de Sylvain Auroux e Eni Orlandi, investigamos o funcionamento do discurso gramatical brasileiro, buscando compreender a relação entre a forma material da gramática, a funçãoautor que a organiza e o imaginário de língua que nela comparece. Para tanto, tomamos como objetos de análise a 1ª. e a 37ª. edição da Moderna Gramática Portuguesa (MGP), ambas filiadas ao nome de autor Evanildo Bechara. Nesta comunicação, propomo-nos a refletir sobre a constituição do imaginário de língua projetado na primeira edição da MGP e sobre os efeitos que esse imaginário produz em um espaço de enunciação que se coloca como (trans)nacional. Os espaços de enunciação, tal como formulado por Guimarães (2005), são espaços políticos nos quais se estabelece o confronto não só entre as línguas, mas também entre os falantes dessas línguas, os quais disputam o direito ao dizer e aos modos de dizer. Por político, entendemos a divisão constitutiva da língua – e, portanto, dos falantes e dos espaços em que ela se inscreve – a partir da qual, pela imposição de um certo imaginário, se estabelece, conforme Dias (2007), uma política de gestão das diferenças da(s) língua(s). O espaço de enunciação em que se inscreve a língua designada portuguesa é aqui tomado como um espaço (trans)nacional, porque, apesar de nele encontrarem-se em circulação diferentes línguas em disputa em diferentes espaços – isto é, não só no Brasil (espaço nacional), mas também em outros países ditos de língua portuguesa (outros espaços nacionais) –, em prol da imposição/manutenção de um imaginário de homogeneidade e de unidade linguística, tal diversidade deve/precisa ser administrada, controlada, domesticada. A despeito disso, comparece em nosso objeto de análise uma tensão entre a(s) língua(s) no/do Brasil e a(s) língua(s) nesses/desses outros espaços, tensão esta que se faz significar, ao mesmo tempo em que se supõe ser silenciada, a partir do jogo entre designar e não designar a língua sobre a qual se diz na gramática brasileira. Designar e não designar, como demonstraram as nossas análises, constituem-se, portanto, como formas de materialização na língua de políticas de línguas (Orlandi, 2007) implementadas nesse espaço de enunciação (trans)nacional, as quais apagam o político, as diferenças, a diversidade da língua e das línguas em circulação – ou seja, em disputa – em diferentes espaços nacionais, dizendo incluí-la e, com isso, estabelecendo e regulando a relação entre as línguas e os sujeitos nessas/dessas línguas, bem como entre estes.


Palavras-chave: discurso gramatical brasileiro; imaginário de língua; Evanildo Bechara; Moderna Gramática Portuguesa.


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