ANÁLISE DO DISCURSO POLÍTICO NOS PRONUNCIAMENTOS DE PRESIDENCIÁVEIS: DEBATES TELEVISIONADOS, 2014

Ariana da Rosa Silva

Resumo


Estudos feitos sobre a relação da linguagem com a sua exterioridade e com a ideologia surgiram na França na década de 60, denominando-se Escola Francesa da Análise do Discurso, fundada por Michel Pêcheux (ORLANDI, 1994). “Por esse tipo de estudo se pode conhecer melhor aquilo que faz do homem um ser especial com sua capacidade de significar e significar-se” (ORLANDI, 2010). Levando em conta o aporte teórico-metodológico da Análise do Discurso de M. Pêcheux, esta pesquisa propõe como objeto de estudo o discurso político e seus efeitos de sentido, relacionando-o à sua exterioridade, buscando compreender o funcionamento da linguagem nas condições de produção em que se apresentam as materialidades discursivas que compõem o nosso corpus. O discurso político está em crise nas sociedades ocidentais e passou a ser tratado como uma mercadoria, assumindo o papel de espetáculo na sociedade a partir da segunda metade do século XX, sendo o cidadão o consumidor deste produto (COURTINE, 2003). Em nosso trabalho, para que possamos obter um sentido possível de interpretação, o discurso será analisado nas suas condições de produção, trazendo o conhecimento da história que atravessa a linguagem no momento em que é produzido. Porque o sentido pode ser “outro”, mas não “qualquer um”, segundo Orlandi (1994), pois depende das condições de produção, da formação discursiva. Além disso, as condições de circulação desse discurso também devem ser levadas em consideração. O objeto de nossa análise é o discurso político, no entanto, deve-se observar que não é o discurso político dos palanques, dos parlamentos ou dos comícios, mas sim o que circula na mídia televisiva e isso implica a possibilidade de sentidos outros. Com a expansão das novas mídias, principalmente da televisão, esta mudança foi ocorrendo com mais velocidade e, embora no Brasil ainda haja, em muitas partes, a emoção dos palanques e comícios, da campanha de rua, a fala pública passou a ser feita de uma forma diferente, acompanhando as mudanças da sociedade, mudando a forma de interação entre candidatos e eleitores, que, agora, acompanham a campanha eleitoral através da televisão. O corpus se compõe dos textos orais produzidos por dois dos presidenciáveis de 2014 (Dilma Rousseff e Aécio Neves) em dois dos debates eleitorais transmitidos pela televisão aberta, sendo eles o primeiro (do primeiro turno) e o último debate da eleição (do segundo turno). Observaremos de que modo, a partir da materialidade linguística utilizada para a produção dos enunciados, os efeitos de sentidos sobre “política”, “sociedade”, “desigualdade social”, “projetos sociais” entre outros, são produzidos nesses discursos. Serão observadas ainda as filiações ideológicas a outros sentidos pré-construídos, que são atualizados através de uma memória discursiva. Além disso, de que forma os eleitores são construídos como interlocutores nesses debates: que imagem se constrói do outro “eleitor” quando se pronunciam determinadas propostas? Qual é o lugar discursivo de onde os candidatos falam e o lugar imaginário atribuído ao eleitor e aos demais candidatos? O objetivo geral deste estudo é analisar como são produzidos os efeitos de verdade nas formulações dos três candidatos à Presidência da República, já mencionados, nos debates televisionados na campanha de 2014. Com este trabalho, objetivamos ainda: refletir sobre os efeitos de sentido produzidos entre os interlocutores; descrever o funcionamento dos mecanismos e recursos linguísticos que possibilitam aos discursos políticos uma construção persuasiva; além de analisar a constituição dos sujeitos nestes discursos e os seus lugares discursivos.


Palavras-chave: Análise do Discurso; discurso político; mídia; debates 2014.


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