O ESTRANGEIRO NO LUGAR DO REFUGIADO – RECORTE DE UMA PESQUISA SOBRE DISCURSOS ATRAVESSADOS

Sabrina Sant'Anna Rizental

Resumo


As migrações sempre fizeram parte da história das sociedades, como consequência do desenvolvimento econômico, das mudanças climáticas e do crescimento demográfico. Mas outras questões, tais como as guerras, a formação de novos estados, as revoluções políticas e a violação de direitos humanos induziram alguns povos às migrações forçadas, em busca de refúgio para se proteger, garantir sua sobrevivência e prover uma vida digna aos seus familiares. O momento atual não apenas favorece, mas reclama reflexões sobre o processo migratório, pois o mundo testemunha diariamente um deslocamento que já ultrapassa os números do êxodo durante a segunda guerra mundial, segundo dados publicados pelo Ministério da Justiça, através do CONARE e pela Agência da ONU para refugiados - ACNUR. Nesse contexto sócio-histórico e político, o Brasil vem ganhando espaço e maior reconhecimento − das instituições que se responsabilizam pela acolhida aos imigrantes (ACNUR, CONARE e Cáritas RJ) e da mídia que acompanha essa questão contemporânea − como um país hospitaleiro, uma nação que abre suas portas e aceita a diversidade. Esta pesquisa, em andamento e situada na linha das Teorias do Texto, do Discurso e da Interação, visa uma reflexão discursiva sobre o tema, tendo como objeto os dizeres sobre os refugiados que vivem na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo principal deste trabalho é pensar os discursos sobre um tema que, apesar de ter grande destaque mundial nos jornais internacionais e locais, ainda surpreende alguns leitores, como se pode observar a partir de algumas perguntas, tais como: por que, hoje em dia, tanta gente está fugindo de seus países?; mas... e as crianças?; então, o Brasil também recebe refugiados? Nota-se que boa parte das reportagens chama a atenção para o aumento do fluxo migratório rumo à Europa e para as consequências desse movimento, mas a escolha do Brasil como país destinatário vem crescendo e o Rio vem se tornando uma das cidades que mais recebe refugiados. Como objetivos específicos, pretende-se: 1) propor uma reflexão sobre o que está sendo dito em relação ao imigrante que solicita refúgio ou que se encontra na condição de refugiado no Brasil; e 2) analisar os dizeres desse imigrante que refletem o modo como ele se vê/lê, a partir do dito e do não dito sobre ele e a sua condição, atendo-nos aos refugiados que vivem no Rio de Janeiro e tendo como corpus fragmentos de dois proferimentos de Charly Kongo, refugiado da República Democrática do Congo: o primeiro realizado em evento no Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ), em comemoração ao Dia Mundial dos Refugiados, celebrado em 20 de junho, e o segundo realizado no Maracanã, no lançamento do projeto Futebol das Nações, promovido pela Cáritas RJ, em 25 de agosto de 2015. O aporte teórico se baseia nos autores filiados à Análise do Discurso Francesa e também em teóricos de outras áreas que dialogam com esta vertente teórica, tais como Zygmunt Bauman, Lacan, etc., para propor reflexões sobre os discursos que geram efeitos de sentidos diversos a respeito desta temática contemporânea.


Palavras-chave: refugiado; discurso; sujeito; Análise do Discurso.


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