AS MULHERES IDOSAS NAS CAPAS DA REVISTA GLOBO RURAL: APRESENTAÇÃO DO CORPUS DE PESQUISA

Wanderléia da Consolação Paiva

Resumo


A Revista Globo Rural, compreendida como um veículo de informação do marketing rural a favor do agronegócio, chama atenção pela sua diversidade de capas e reportagens que ressaltam figuras de idosos desde a sua primeira edição, em outubro de 1985. Entretanto, observa-se que, o número de capas que trazem mulheres idosas é menor que a de idosos. Ressaltamos dois motivos para esta condição: o processo migratório da mulher para a cidade e a sua posição subordinada em relação aos homens no campo. No Brasil, a predominância feminina entre os idosos é um fenômeno tipicamente urbano. As mulheres constituíam, em 2010, 57,1% da população idosa. Nas áreas rurais, predominam os homens; 52,8% dos idosos. A maior participação das mulheres no fluxo migratório rural urbano explica essa diferença (BRUMER, 2004). O objetivo desta pesquisa é analisar os aspectos que perpassam as imagens de idosas das capas da referida revista. Para isso foram selecionadas cinco edições dos anos de outubro de 1986, outubro de 1993, julho de 1997 e junho e outubro de 2001 que compuseram o corpus deste estudo. A conjuntura que se apropria das imagens das idosas nos remete para a necessidade de compreensão dos aspectos inconscientes e ideológicos a partir da análise do discurso de M. Pêcheux e Eni Orlandi. Como resultados, percebemos nas revistas analisadas aspectos econômicos que diferenciam o agronegócio e a agricultura familiar sugerindo em ambos os casos uma disputa entre os sexos com vantagens para o gênero masculino através de palavras que se repetem e depreciam a mulher bem como a colocam em uma posição de desvantagem (observamos que as mulheres estão sentadas ou agachadas) com funções pré-estabelecidas na sociedade machista, especialmente a da maternidade ou o seu apagamento (como a edição de out./2001 que não retratou o Dia Internacional das Mulheres Rurais). Quanto à ideologia do agronegócio em contraposição à agricultura familiar, observa-se a condição de riqueza e de prosperidade nas capas de out./1986, out./ 1993, jul./1997 e jun./ 2001 diferentemente da capa de out./2001, relativa ao segundo modelo de desenvolvimento econômico, sugerindo uma valorização do agronegócio. Conclui-se que as edições escolhidas para a análise retrataram que há diferentes formas de envelhecer no campo o que nos permite falar sobre velhices do campo (DOLL, 2012) condição esta explorada pelas diferentes situações que envolveram as mulheres idosas das capas. As figuras das mulheres idosas demonstraram que o trabalho assume diferentes significados como, por exemplo, sofrimento, orgulho, submissão, participação social e aprendizagem. Mas um fato a se destacar é que o trabalho representa uma resistência à velhice e às imagens negativas da mesma (DOLL, 2012) condição esta que nos parece comum às capas analisadas. Com relação à divisão do trabalho por sexo e geração na agricultura, pode-se observar que as mulheres ocupam uma posição subordinada e seu trabalho é visto como ‘ajuda’ mesmo quando elas trabalham de forma semelhante ao homem (NOGUEIRA, 2012; BRUMMER, 2004). Segundo Mészarós (2002) o capitalismo tem interesse em preservar e intensificar a desigual divisão sexual do trabalho. A lógica do capital permite uma relação de igualdade apenas formal. O capital necessita preservar os mecanismos de subordinação da mulher. Desta forma, comprovamos, através da análise do discurso, que as capas das Revistas Globo Rural selecionadas trazem um aspecto positivo em relação a muitos estereótipos negativos da velhice quando mostra idosas saudáveis e trabalhadoras e, em contrapartida, perpetuam a condição de dominação masculina e toda a sua depreciação ao trabalho da mulher ao longo da vida.

Palavras- chave: marketing rural; idosas; subordinação; capas de revista.


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